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OPINIÃO: Homo inutilis

Nós, brasileiros, estamos vivendo dias de muitas apreensões. No início de um novo governo que resultou de um processo eleitoral extremamente radicalizado, os fatos se sucedem com novas crises, gerando desassossego e preocupações. Talvez estejamos adentrando uma nova era de grandes mudanças na economia, com reformas profundas nos ordenamentos jurídicos que comandarão o novo governo. Até agora estivemos envolvidos em discussões apaixonadas entre soluções socialistas e liberais. Aliás, no mundo todo, essas propostas ainda se debatem. Alguns países se destacaram por encontrarem caminhos de desenvolvimento. Na Ásia, o Japão de após guerra, a Coreia do Sul, o Vietnã e a China são exemplos de recuperação. Na Europa, a criação da União Europeia foi o caminho encontrado para uma nova experiência de solidariedade entre países apoiados por economias fortes como de Alemanha, França e Grã-Bretanha. Na América, o gigante americano continua em ascensão e o Canadá também o acompanha. A América Latina vem se arrastando lentamente, sem apresentar nenhum exemplo a ser realçado.

A China, na sua sabedoria milenar, depois de se debater durante anos com experiências radicais, vem encontrando na aliança entre um planejamento estatal-controle social rígido e uma economia liberal, uma fórmula surpreendente de desenvolvimento. Durante mais de 20 anos vem se desenvolvendo a níveis de 10% ao ano. Em 2017, sua economia com um PIB de 20 trilhões de dólares, já ultrapassava a dos Estados Unidos (19 trilhões de dólares), enquanto o PIB brasileiro está limitado a R$ 4 trilhões.

Nossa expectativa de desenvolvimento está baseada na promessa liberal de abrir a economia, privatizar o maior número de empresas estatais e diminuir o tamanho do Estado. Essa fórmula obrigará a iniciativa privada a investir pesadamente na criação de novas empresas, capazes de absorver os milhões de desempregados que se encontram à deriva. Para isso, teríamos que mobilizar nossos recursos financeiros que se encontram imobilizados na dívida interna e repatriar fortunas depositadas em paraísos fiscais e bancos suíços. Hoje, nossas poupanças encontram-se aplicadas em instituições financeiras, lastreadas pelas Letras do Tesouro, confortavelmente instaladas sem muito estímulo para aventuras de risco. Enquanto as rendas de aplicações financeiras competirem com os riscos de empreendimentos privados, acho que a tendência será de permanecer onde estão. As privatizações, num primeiro momento, em nada contribuirão para minorar o desemprego, talvez possam até agravar se os capitais não tiverem sensibilidade social. Com o progresso tecnológico que marcha em ritmo acelerado, a cibernética, a robótica e a inteligência artificial irão agravar, ainda mais, a mão de obra ociosa. No dizer de Yuval Noah Harari, historiador e filósofo judeu, o "Homo Inutilis" será o grande problema a ser enfrentado pelas economias futuras.

Se o novo governo não conseguir alavancar a economia, terá que tomar a iniciativa de promover as grandes obras de natureza estratégica, necessárias à logística de apoio à produção e escoamento de safras, para agilizar nossa produção industrial e principalmente dar sustentação ao mercado consumidor, interno e externo, sem o qual nada acontecerá.

Nossas grandes empresas de engenharia, empreiteiras de porte internacional, estão aptas a responder às demandas que lhe forem feitas. Afastada a corrupção e entronizada a legalidade patriótica, faltará somente a resposta do Capital.

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